4.6.17

O Povo: Pattinson tem uma atuação impressionantemente precisa em The Lost City of Z


Herança, idealismo, família e destino. O entrelaço entre tantas forças diferentes é a força-motriz que se centra no coração do major Percy Fawcett (Charlie Hunnam), figura real e histórica que ganha uma espécie de cinebiografia com Z: A Cidade Perdida. Com uma trama fundamentada na complexidade do personagem central, o filme mostra fôlego impressionante na mão do sempre irretocável James Gray (Os Donos da Noite/2007; Era uma Vez em Nova York/2013). O resultado é um épico ambicioso no centro da Amazônia que é, ao mesmo tempo, um longa metragem sobre a forma como o destino se instala no coração daqueles que ousam persegui-lo.

Filho de uma família tradicional, mas com nome sujo pelas ações do pai, Percy é alguém que sonha em dar uma vida mais confortável à esposa, Nina (Sienna Miller). Em busca de condecorações que rendam uma promoção acima do nível de major, ele aceita viajar para a divisa entre Bolívia e Brasil e explorar o rio Verde para realizar um estudo topográfico. Após percalços que incluem insetos, doenças, cobras, onças e índios “selvagens”, Percy acaba descobrindo sinais de uma civilização ancestral no coração da Amazônia e acaba dominado por uma ideia-fixa.


Para Percy, pouco importam os jogos de poder ingleses na América do Sul, ou mesmo a paz que o estudo topográfico influenciaria. Para ele, o objetivo era provar a existência de uma cultura rica e mais antiga do que a europeia em meio aos povos selvagens. Dessa forma, o major Fawcett ia na contramão da noção imperialista que já dominava o mundo de então, entre as décadas de 1900 e 1920. O que parecia um acinte para parte da Real Sociedade Geográfica, era uma certeza para Percy. Para ele, os índios podiam e tinham construído uma sociedade avançada.

Baseado no romance biográfico escrito pelo jornalista David Gran e adaptado pelo próprio James Gray, o roteiro do filme se divide entre família e cada uma das três expedições, com uma dissociação grande entre os ritmos. O resultado é um filme longa, mas que esmiúça as mensagens transmitidas. O que segura a trama é justamente a complexidade das motivações do protagonista. Gray filma um personagem que consegue, ao mesmo tempo, perscrutar o passado e o futuro com sua coragem. Ele investiga uma história, mirando um além, uma justiça histórica. Ao mesmo tempo, ele se fia na própria família, que abandona a cada par de anos para voltar à Amazônia.

Se Charlie Hunnam é eficiente, como de costume, como o protagonista, é no elenco de apoio que o personagem e o filme crescem. Robert Pattinson, intérprete do braço-direito de Fawcett Henry Costin, tem uma atuação impressionantemente precisa. Mais do que aparecer quando chamado, ele consegue sumir e manter o fluxo de ações. Já Sienna Miller constrói uma personagem forte, que consegue rivalizar com o forte protagonista. Já Tom Holland, que surge no final do segundo ato como o filho mais velho do major, consegue expor a boa dose de antagonismo e contradição de Percy, algo que ajuda quebrar uma leitura mais maniqueísta sobre o protagonista.

Centrado na Amazônia brasileira e boliviana, Z: A Cidade Perdida talvez impressione ainda mais o público nacional. Dimensionada por livros, mas pouco experimentada pela população, a floresta tropical é apresentada de forma imersiva e grandiosa. É algo que incita uma exploração, num misto de fascínio e medo. Z traz em si ainda um respeito imenso pela cultura indígena, algo que é tratado com pouco caso mesmo no Brasil, e com os idiomas falados no Brasil e na Bolívia. Soma-se a isso a precisão na direção de James Gray, que adiciona poesia e iconografia para uma trama já bem recheada de sentimentos. Ambicioso e grandioso, Z: A Cidade Perdida é um filme que mostra que nem toda obsessão é destrutiva e nem todo bem-querer é generoso. É, em suma, amplo como o coração humano.

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